Por Celso Rommel
Nos anos oitenta eu era um adolescente, leitor contumaz da revista Bizz. Passei por bandinhas e grupos de rock cover, sonhando fazer um trabalho autoral, integrar uma galera que existia em São Paulo e frequentava uma casa de shows lendária: a Madame Satã, de onde emergiram alguns grandes nomes da época.
Nos anos oitenta eu era um adolescente, leitor contumaz da revista Bizz. Passei por bandinhas e grupos de rock cover, sonhando fazer um trabalho autoral, integrar uma galera que existia em São Paulo e frequentava uma casa de shows lendária: a Madame Satã, de onde emergiram alguns grandes nomes da época.
Em 1991 a moda do
Brock já tinha passado (a Madame Satã já
era), mas não pra mim. Eu vivia bronqueado com o axé e já tinha
feito um trabalho autoral com o Coktel Molotov em Feira de Santana. Pensava encontrar sinais de vida na Capital Paulista. Então fui a São
Paulo, onde já estavam o baterista Jorge Bala e o baixista
Josenilton 'Harrison" Novaes, com os quais eu já tinha tocado numa banda em Ipiaú chamada Vox Poppuli.
Então, formamos o Granbeat, nome que tinha
idealizado ainda na Bahia. Naquela época, os meus ídolos paulistas estavam todos sucateados pela
onda de música brega, mas, contra todas as
possibilidades, a ideia era fazer uns cachês para arrumar uma grana e pagar um bom estúdio. E assim fizemos. Tocamos pop rock em vários points paulistas, de palcos decentes a
espeluncas.. foi quando percebi que, naquela época,
culturalmente, São Paulo era só uma Ipiaú
ampliada dez mil vezes.
Ou seja, apesar
de alguns fãs terem aparecido, a grande maioria da galera
lá não
entendia por que tocávamos rock quando a
onda era pagode e sertanejo. Esse paradoxo, na realidade, nunca mudou e segue até hoje, perseguindo, como uma sombra imutável, todos os roqueiros sonhadores
tupiniquins.
Ainda assim, o
intento foi realizado. Em um estúdio
de um cara legal lá em Santana, a gente
gravou quatro faixas: Tonight, In The Search of the Yellow Bird, Antartida e
Like I Never Saw Before.
Depois disso, as
coisas foram ficando cada vez mais insustentáveis, financeiramente em Sampa e tive de voltar a Ipiaú
em 94, quando iniciei o trabalho como radialista.
Claro que a ideia de concluir o trabalho de São Paulo não
saía da cabeça.
Jorge Bala também voltou para a terrinha
e tínhamos as quatro faixas numa fita de rolo. Um
velho colega das bandas pelas quais passei nos acompanhou nos teclados:
Reinaldo Mota. Baixistas eram todos freelancers e, nas gravações que se seguiram, eu geralmente tinha que
assumir o baixo, além das guitarras. Para
fazer ao vivo, um dos que mais marcou presença
foi Marcus Pina, já falecido.
Em Itabuna, continuamos as gravações com essa formação e Antártida
chegou a ser bem executada nas rádios
de lá. Entre 94 e 96, gravamos o restante do CD
autoral numa época em que banda lançar disco no interior da Bahia era quase como
uma pessoa sem recursos comprar um carro hoje.
Passaram a
integrar o repertório do disco uma versão de Don´t
Let me be Misunderstood (Animals) e mais: Som do Brás Agora, Domingo Sem Vida, Dark Light /
Maninha e Fugirei Levando 1 Litro de Cachaça.
Em 97, lançamos o disco iniciado em 92. Ficamos
empolgados porque causou algumas boas reações, mas a raridade de shows (causada pelo mesmo paradoxo citado no início - e que ainda persiste) nos tirou um
pouco da força.
Não havia internet ou a cena independente que
temos hoje. O problema da distribuição
do trabalho de Ipiaú para o mundo se
revelou quase insolúvel. A vontade de
romper as fronteiras com o CD da capa com disco voador era grande, mas faltavam
pontes.
Ainda assim, tentamos empurrar outro disco "na tora". Foi o 3 x Legal, de 2000.
Apesar de bons momentos, esse trabalho não
era mais o Granbeat que eu tinha imaginado, surgido das noitadas paulistanas. Foi
quando resolvemos não lançar mais nada e a coisa parou.
A banda já contou com a participação de Alisson Costa no baixo |
De vez em quando
alguém me pergunta sobre Som do Brás, ou Antártida,
como foram feitas, como foram gravadas. Eu gosto quando isso acontece, porque
foram músicas para as quais dediquei muita energia e
sonho.
Até hoje considero o disco inicial do Granbeat
como a parte em que eu estava mais envolvido com essa coisa louca chamada música.
Cara... ouvir "Don´t Let me be Misunderstood" na versão do Granbeat é uma das memórias musicais mais queridas de minha adolescência. Juro que prefiro a versão que vocês fizeram à original.
ResponderExcluirBons tempos.
Valeu mano! Tamo junto
ExcluirLembro do primeiro show da granbeat em Ipiaú: clube rio das contas (náutico). Foi divertido. Até hj a execução de rock and roll (Led Zeppelin) tá na minha memória. Comprei ambos cds da granbeat várias vezes e sempre acontecia o mesmo: alguém me roubava...
ResponderExcluirEsses meninos têm futuro
Li até o fim! Conheci Ipiaú em 1995, e Celso tocou na Praça, desde então somos amigos. Talento tem em grande escala!
ResponderExcluirTrabalho antológico. A banda até hj tem fãs aqui em Feira de Santana. Me incluo entre eles
ResponderExcluirSou fã da greambeet até hoje!
ResponderExcluirSonzera que faz viajar. Gosto muito também do segundo disco e a canção "Rapatição" é um retrato fiel de uma época.
Olá meus queridos! Sou O Nilton(Harrison)Novaes, aquele que tocou em algumas faixas do 1º CD do Granbeat (ainda em São Paulo) A História tem uma imensa profundidade se pudéssemos contar mais detalhes. Os ensaios, as jam sessions, as diversas casas noturnas que tocamos, os amigos que fizemos, os desencontros e também as lições de vida que tiramos de todos esses acontecimentos. Encerarei esses comentários, filosofando:"Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena". Nós temos um canal no YouTube para preservar a memória do Granbeat segue o link para o canal,lá você verá diversos clipes da banda e também do Celso Rommel em sua diversas metamorfoses musicais! abraços a todos. https://www.youtube.com/channel/UCnldhbWNsjrgBcyt4dXRZdA?view_as=subscriber
ResponderExcluirMuito bom! Mesmo com todos os empecilhos culturais Ipiaú é um berço de excelentes artistas. Com certeza Celso Rommel influenciou a cena musical do rock em Ipiaú, e serve de exemplo para muitos músicos da região.
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