A Banca de revistas foi o Google de nossa época

  Antiga banca de revistas da praça do Cinquentenário nos anos 90

Por Giva Moreira

Caro e intrépido leitor, para você entender melhor o sentido do texto a seguir, preciso que você, por um momento, se imagine, sem as facilidades dessa vida moderna e digital que temos hoje em pleno 2020. Se imagine agora sem internet e suas redes sociais, downloads, google, you tube, Netflix, smartphones, apps, MP3, MP4 e cia.
Conseguiu? Então aperte os cintos e venha comigo para Ipiaú – Bahia, entre o final dos anos 80 e início dos anos 90! Vamos lá...
Por volta de 1987 eu acabava de chegar de Vitória da Conquista e Ipiaú não oferecia muitas opções de lazer pra turma. E era engraçado o esforço que precisávamos fazer pra ter acesso às informações sobre as coisas que a gente gostava... Por exemplo, se quisesse criar um acervo de informações sobre seu artista preferido, você teria que: Gravar no vídeo cassete algum programa de TV (Programa livre, MTV e cia) ou buscar em uma banca de revistas por notícias sobre o assunto. Pra você conseguir aquela música da sua banda preferida, tinha que ficar de “castigo” na frente do seu gravador esperando a música tocar no rádio, pra gravar numa fita BASF e rezar pro filho da mãe do locutor não falar durante a música! (Risos) quem lembra do "show das praias" da FM Ubatã e "Love is Love" da FM Ipiaú?  
Os trabalhos/pesquisas tinham que ser feitos na biblioteca do "GEI" (Colégio estadual de Ipiaú) e você tinha que garimpar os livros e transcrever um resumo de sua pesquisa a mão! Vivíamos em um constante garimpo de informações, mas era mágico!Banca do Muqueado na Praça Ruy Barbosa.


Banca do Muqueado na praça Ruy Barbosa

Já na banca de revistas, tínhamos outro refúgio para garimpar informações através dos jornais, livros, revistas de diversos assuntos, quadrinhos e até Fanzines! Os romances e papeis deentre si, os álbuns de figurinhas, a interação da galera nas conversas, as amizades criadas, a troca de informações e o ambiente bacana que se formava na banca! Era um point de pessoas que compartilhavam afinidades! Era praticamente uma “Mini – Comic con”. Além disso, nessa época, também existia o famoso Fliperama de seu China na praça do Cinquentenário, onde rolava a jogatina e surgiam vários paixões platônicas pela Chun Li, mas isso é outra história (risos)

                    
Os irmãos Gilberto e Nado Souza, comandavam a banca da Praça do cinquentenário nos anos 90

Tinha quem fazia pastas com recortes de revistas, jornais sobre diversos assuntos era item obrigatórios nos fã clubes! Tudo físico, feito manualmente e o mais engraçado é que a turma se amarrava nisso! Encontrar a nova edição daquela revista que você colecionava era um misto de ansiedade e alegria, que só o cheirinho da tinta nova impressa nas páginas trazia. Até o dono da banca te olhando torto caso folheasse a revista toda e não compra-se, fazia parte! (A não ser, é claro, que o dono da banca fosse seu camarada, não é mesmo Beto? – Risos) Ah, naquele tempo, as revistas não vinham em saquinhos como hoje.
Nessa época, a cidade tinha quatro bancas de revistas. Duas na praça Ruy Barbosa, uma na rodoviária e outra na praça do Cinquentenário. Eu era cliente de praticamente três delas. Na Ruy Barbosa tinha a banca de Muquiado, onde eu comprava minhas edições da Espada Selvagem de Conan e a banca do Jocélio, que tinha muitos quadrinhos antigos como edições do Mandrake, Fantasma, Tex e Zagor. Na banca do Cinquentenário, de Robson, os irmãos Beto e Nado trabalhavam e ficava pertinho da minha casa e era lá, que eu costumava passar as tardes depois do colégio, conversando sobre quadrinhos, música, religião, arte, teatro, vida, amizade... Em pouco tempo, se tornou o point de encontro de muitos outros amigos e Beto se tornou meu amigo até hoje. Lá, eu comprava minhas revistas, quadrinhos e nas conversas, enriquecia ainda mais minhas leituras de mundo. Era a única que funcionava a noite, com o Nado.
Muitos anos depois, por volta de 2014, a banca do Cinquentenário passou para o casal Miguel e Aline, que também eram ótimos no atendimento e nas conversas. Em quanto isso, a banca da rodoviária fechou. E entre 2015 a 2016, existiu na rua 2 de julho a Livraria Doces Letras,  da Sr.ª Sandra, que além do ótimo atendimento, tinha vasto catálogo em livros, revistas, HQs, coleções, presentes e livros didáticos. Na rua Castro Alves, funcionou o Ateliê Doces letras, também administrado pela Srª Sandra e lá eram oferecidos oficinas de crochê, bordado, brinquedoteca e desenho (Onde nessa última, ministrei aulas).

Oficina de desenho no ateliê Doces Letras

A banca de Jocélio, da Praça Ruy Barbosa fechou, a banca de Muquiado passou para os irmãos Sheila e Erlon, mas acabou saindo do local após a reforma da praça, funcionou por algum tempo na rua mariquinha borges, em frente ao ponto de Dona Clarice do Mingau, mas acabou fechando. Nesse período, de mais ou menos um ano depois, Miguel e Aline passaram a Banca do Cinquentenário para Marcio do Treiler, que a mantem funcionando até hoje mas devido a uma reforma na praça, encontra-se desativada.
Atualmente em Ipiaú, a demanda de leitores e colecionadores cresceu, e a procura ficou maior que a oferta. Os colecionadores (como eu), tem que recorrer a compras online, o que muitas vezes saem mais me conta. Talvez isso tenha causado a queda do negócio em questão na cidade.
Tristemente, porém o mais importante para mim, foi o que se perdeu.
Perdeu-se os bons encontros e conversas nas bancas e livraria...
Perdeu-se os desenhos, as descobertas das crianças...
Perdeu-se a troca de experiências de leitura e de vida...
Perdeu-se as novas amizades criadas nessa atmosfera familiar e que tanto contribuiu pra minha formação e acredito que na de várias pessoas também.
Perdeu-se...

E hoje para pesquisar? Internet! A tentação do famoso Ctrl + C Crtl + V facilita a vida da geração milênio.
Pra que revistas e jornais físicos? Acessar  sites é mais fácil!
A tecnologia facilita, tem seus grandes méritos e não desmereço isso, mas a atmosfera vivida naquele garimpo literário era mágica. Sim, eu sou um cara nostálgico.
Hoje Ipiaú tem aproximadamente 47.704 mil habitantes e possui apenas uma banca de revistas. Continuo meu garimpo literário, agora navegando em águas digitais.

- Giva Moreira

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